O brincar para Winnicott é universal. Toda criança brinca. Para o autor, essa seria uma forma de comunicação da criança na psicoterapia. A psicanálise desenvolveu-se como forma especializada do brincar.
A brincadeira para o autor tem um lugar importante que ele nomeia de espaço potencial. Espaço este vivido entre o bebê e sua mãe, mais o ambiente – a realidade concreta ou externa. Como dito em post anterior, a mãe é quem orienta no sentido de tornar concreto aquilo que o bebê está pronto para encontrar. Durante a brincadeira a criança traz à tona toda essa experiência.
Este papel que a mãe suficientemente boa desempenha por certo tempo sem que haja “impedimentos”, faz com que o bebê experimente um controle mágico. Ou seja, fruir experiências baseadas na onipotência de seus processos internos (intrapsíquicos) com o controle que tem do real. Essa intermediação da ideia de magia quando o bebê experimenta onipotência, Winnicott revela em seu livro “O brincar e a realidade”:
“É a precariedade da magia, magia que se origina na intimidade, num relacionamento que está sendo descoberto como digno de confiança. Para ser digno de confiança, o relacionamento é necessariamente motivado pelo amor da mãe, ou pelo seu amor-ódio ou pela sua relação de objeto, não por formações reativas. Quando um paciente não pode brincar, o psicoterapeuta tem de atender a esse sistema principal”. (p. 72)
Após a fase da confiança, o próximo passo é a criança ser capaz de ficar sozinha na presença de alguém. O que indicaria que esta estaria brincando agora com base na suposição de que a pessoa a quem ama e confiou lhe dá segurança o bastante que permanece disponível quando lembrada “como se refletisse de volta o que acontece no brincar.” (p. 71)
A criança torna-se pronta para o passo seguinte: introduzir seu próprio brincar e o caminho para um brincar conjunto.
Para Winnicott, o brincar é em si mesmo uma terapia que possibilita a experiência criativa. Criatividade, para o autor, é sinônimo de saúde psíquica. O autor escreve: “esse brincar tem de ser espontâneo e não submisso ou aquiescente, se é que se quer fazer terapia”. (p. 76)