Para um impulso instintual, a fuga não tem qualquer valia, disse Freud. É nesta toada que o post de hoje abordará sobre a repressão.
A repressão é um mecanismo de defesa que só se inicia quando há a diferenciação entre o consciente e o inconsciente, ou seja, quando há o julgamento. Não é uma defesa desde o início da vida. Na nossa cultura, a repressão repousa totalmente sobre a coerção de nossas pulsões (pulsão, para a psicanálise, é a representação psíquica dos instintos. Cada indivíduo lida com essas representações de um jeito, pois está ligada à idéia dos afetos. Ou seja, você pode ter tido uma mãe que te deu o alimento, mas não conseguiu dar o afeto, o acolhimento, o olhar e afins que complementam esse alimento). A coerção acarreta alguns efeitos nefastos, como as neuroses e as psicoses.
Nosso ego sempre procura o prazer, o nirvana. Assim, quando o motivo do desprazer é maior que o do prazer, da satisfação, instaura-se a condição para que haja a repressão. O objetivo é, portanto, rejeitar e manter algo desprazeroso longe da consciência. No entanto, a repressão não surge nos casos em que a tensão produzida pela falta de satisfação do impulso instintual é elevada a um grau insuportável, como no caso da fome, da dor, pois estes são imperativos e a mente não dá conta de arranjar defesas contra este tipo de instinto.
A satisfação do instinto é agradável em si mesma, mas irreconciliável com outras reivindicações, intenções. Ou seja, causa prazer de um lado, mas desprazer de outro. Imagine só se todos fizessem aquilo que dá prazer o tempo todo. Provavelmente não haveria sociedade e cultura.
A repressão acontece em duas fases, segundo Freud. Na primeira, chamada repressão primeva/primordial o acesso ao representante psíquico do instinto é negado pelo consciente e eis que surge a fixação: o representante em questão continua inalterado e o instinto permanece ligado a ele. Há a fixação pois essa negação do consciente ao representante psíquico "perturba" o desenvolvimento e o fluir psíquico de determinado
indivíduo. E como as coisas simplesmente não somem da mente, a via que se encontra é permanecer fixado em determinada fase. E é à partir disso que se fala em fixação oral, anal e afins. Mas aí já é prosa pra outro post.
A segunda fase é a chamada repressão propriamente dita, quando afeta os derivados mentais do representante que fora reprimido - pensamentos que se associaram ou fixaram ao instinto principal - mas estes acabam sofrendo o mesmo destino da repressão. A repressão, portanto, segundo Freud, é uma pressão posterior. E tudo aquilo que a mente fixa, estabelece como ligada ao primevamente reprimido é tão importante quanto este. Claro, pois a repressão só realmente ocorre quando há a repulsa dos derivados do que fora antes reprimido.
Bem, como o título bem o coloca, o ego não escapa de si. Se você vai ao Japão, sua mente vai junto. Neste sentido, o representante instintual continua a existir no inconsciente embora fugido da consciência. Além da idéia associativa, outro elemento representativo do instinto é levado em consideração e passa pela vicissitude da repressão: a quota de afeto. O afeto geralmente é transformado em ansiedade e é considerado mais importante que a idéia em si. É por conta disso que se insiste ao paciente que este verbalize o que lhe vem à mente, sem crítica ou idéias tensionais. Freud colocou que no decorrer deste processo o paciente desfia suas associações até ser levado de encontro a um pensamento cuja relação com o reprimido fique tão óbvia, que o force a repetir sua tentativa de repressão. Assim, os sintomas neuróticos surgem desta premissa, pois são derivados do reprimido mas que, de alguma forma, tiveram acesso à consciência, pois a repressão falhou - passou desapercebido pela consciência, assim como uma pessoa que não foi convidada para uma festa consegue passar pelo segurança na porta.
Só se tem noção da repressão, à partir do momento que esta falha. Pois se o instinto e seus representantes sofrem o crivo do consciente não nos aperceberemos que houve a repressão, embora esta continue atuando na mente. Há um despêndio constante de energia para que se consiga manter a repressão e esta não corra perigo. No estado de sono, através dos sonhos, há o alívio da mente poder encontrar expressão.
Freud colocou que não é a repressão propriamente dita que produziria os sintomas, mas sim um retorno ao reprimido - o que também será prosa pra outro post.
+baseado no artigo Repressão (1915), Sigmund Freud.